terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

"Composição do indeciso" de Samuel Strappa



"Gostaria de fechar o meu tempo em uma caixa.
E nela colocar músicas sortidas para compor esse indeciso.
Lacrar com fitas e depois mudar o assunto.
Tenho trabalhado tanto…
Parece que lá fora deixei o mundo das ideias.
Quando mal percebo, lá se foi o meu janeiro.
O primeiro que me puxou o fevereiro e seguiu carnaval.
Astral!
Olha que na verdade estou tão carnal.
Penso que me esqueci do verbo e agora me dilacero.
Para que me esforçar nesses versos de leitura crua?
Jura que depois você volta com o meu troco?
Tropeço neste contrato absurdo e paro com o sufoco rouco.
Sou pouco.
Vou encaixar mais essa parte na sinfonia das notas.
Para a caixa, quando aberta, revelar canções desconexas.
Todas sem o tom e completamente fora do ritmo.
Mas quem sabe, neste estranhamento, seja esse o nosso tempo…"

Samuel Strappa


http://jogodequeixo.wordpress.com/?tag=carnaval

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Comentário: A geração dos "sem Madonna"

""Eu nasci assim." A frase não é da canção "Modinha para Gabriela", de Dorival Caymmi, imortalizada na voz de Gal Costa. É apenas o título do novo single de Lady Gaga ("Born this Way"), que acaba de vazar e já causa polêmica por lembrar "Express Yourself", o hit de Madonna de 1989 que conclamava a geração oitentista a aceitar apenas o amor incondicional. Ouça trechos das duas músicas:


A canção de Gaga, podem aguardar, vai ser um hit e não é tão ruim quanto se diz, mas trouxe ao Twitter um conflito de gerações.

Quando tuitei que o novo single de Lady Gaga se chamava "Eu nasci assim: sem criatividade", um jovem seguidor me comoveu com um apelo ao respeito pela nova artista.

Em vários "tweets", ele questionou o seguinte: "Qual o problema em deixar que a minha geração sinta tudo o que Madonna fez vocês sentirem? Será que na época de vocês não tinham pessoas criticando Madonna? Nós não temos o que vocês tiveram. É isso."

A minha crítica não é especificamente a Lady Gaga, mesmo porque, no artigo "Lady Gaga e a Lojinha do Pop", eu festejava a nova diva pop justamente pela maneira criativa como fazia o pastiche dos ícones dos anos 1980 e 1990 em seus dois primeiros álbuns. No entanto, uma coisa se revela após o lançamento do novo single de Gaga e do último disco de Christina Aguilera: falta background a todas essas divas novatas.

Madonna é fruto de uma geração modernista, que criava sentidos para expressar sua insatisfação contra a ideologia dominante, repressora, castradora.

Estudou com a coreógrafa Martha Graham, conviveu com Basquiat e Andy Warhol, tirava notas altas na escola para conseguir dinheiro do pai e sempre usou a sedução feminina de forma a subjugar os homens.

Foi para Nova York vinda do interior, diz a lenda, com US$ 35 no bolso, morou em espeluncas, trabalhou no Dunkin' Donuts, quebrou a cara e adquiriu experiência.

Com base em sua educação católica e em toda a repressão que sofreu no seio familiar, criou sua obra-prima "Like a Prayer". Pela necessidade de entender sua maternidade, criou "Ray of Light"; do medo da velhice e da nostalgia das pistas de dança dos anos 1970 nasceu "Confessions on a Dance Floor". Da necessidade de ser dona de seu desejo sexual como são os homens, criou "Erotica" e "Justify My Love", cujos vídeos primam pela sutileza e pelo sugestionamento sexual.

Não há uma cena de nudez explícita nos dois vídeos, mas não houve menino daqueles anos 1990 que não corrido para o quarto após vê-la simulando masturbação em uma cama de veludo vermelho com os cônicos e icônicos corpetes de Jean-Paul Gaultier. "Eu soube que era gay quando vi 'Justify My Love' pela primeira vez", me disse certa vez um amigo.

Já Lady Gaga, Britney e Aguilera são da geração pós-moderna, carente de sentido, de ideologia e de educação formal. O caminho aberto por Madonna em termos de comportamento feminino e homossexual deixou essa geração sem ter o que contestar. Quando Gaga diz que "nasceu assim", está falando desses jovens frutos do determinismo histórico de Fukuyama: tudo está feito, estamos presos a nós mesmos e nunca seremos sujeitos ativos sobre nada, porque o problema e a solução está sempre no outro.

Enquanto Madonna olhava para as tendências musicais do futuro próximo, as engolia, misturava com suas questões existenciais e as regurgitava em algo aparentemente novo, as novatas do pop parecem fazer o caminho inverso e exatamente por isso são classificadas de plagiadoras.

Se Gaultier traduzia Madonna em corpetes, Lady Gaga traduz as roupas de Alexander McQueen e as bases musicais de Madonna, do Ace of Base e do Depeche Mode em performance e música.

Madonna e Michael Jackson eram os ícones que os outros analisavam, discutiam e tentavam decifrar. Lady Gaga e as outras são exatamente o contrário. Artistas carentes de sentido que buscam nos símbolos criados pelas gerações passadas uma substância para sua performance muitas vezes vazia e desesperada.

Lady Gaga é boa. De todas as que estão aí, aliás, é a melhor. E isso se evidencia quando ela, assim como Madonna, fala daquilo que é sua essência, como em "Beautiful and Dirty Rich", "Poker Face", "Telephone" e "Paparazzi". Mas se continuar olhando para os sintetizadores dos anos 1990, vai cansar logo.

Quanto à carência de um ícone para chamar de seu do meu seguidor, recomendo que não tente sentir o que sentimos com Madonna e Michael Jackson, assim como foi inútil à minha geração tentar sentir o que eram os Beatles e os Stones no auge. Esqueçam as divas que não se esquecem da Madonna, vão a uma balada que toque LCD Soundsystem, Scissor Sisters, Cut Copy, La Roux, Hurts, Adele, MGMT, Gorillaz, Cee Lo Green, Janelle Mónae e sintam a boa música pop de sua geração. "

JAMES CIMINO


FOLHA DE SÃO PAULO

Happy Valentine's Day!


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

TETRO - Dicadiquinha

Excelente! Não só por ser filmado na minha amada Buenos Aires, em P&B, com enredo bem fechado, atores excelentes, reflexões na medida, fotografia de altíssima qualidade... Realmente eu AMEI Tetro!
Coppola arrasou! Me senti presenteado com este filme. Passei 3h inteiras refletindo, sem conseguir dormir.... a vontade que deu foi de voltar pra Fundarj e assistir o filme de novo, às 2h da manhã!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Brasília

"Minha boca também
 está seca
deste ar seco de planalto
bebemos litros d`'agua
Brasília esta tombada
iluminada
como o mundo real
pouso a mão no teu peito
mapa da navegação
desta varanda
hoje sou eu que
estou te livrando
da verdade"

Ana Cristina César 

sábado, 5 de fevereiro de 2011

DicaDiquinha - Black Swan

Você é responsável pelas suas vitórias. Conseguiu algo que sempre desejava? Comemorar? Nem sempre...
A cobrança pela perfeição, o politicamente correto, a angústia em continuar no topo. Tudo isso junto, misturado a um roteiro excelente, faz do Cisne Negro um filme excelente.
Capta sua atenção do início ao fim, você realmente vive o filme.
Inclusive lembrei da frase de uma colega da faculdade, que me chocou na época com sua declaração: "Eu queria mesmo era ser bailarina, mas balé é muito difícil, então fiz medicina."
Diga-se de passagem, ela é uma médica brilhante.... mas bem do estilo carinha de Odette alma de Odille!