domingo, 15 de setembro de 2013

"The suspects wore Loubotins"



Glamour, grifes, flashes, revistas, anúncios, entrevistas, fama, dinheiro. Atire a primeira pedra quem, no mínimo não se atrai por nenhuma dessas coisas. Todo esse poder envolvendo a fama e o dinheiro são tão velhos quanto a humanidade. Não é à toa que o Brasil foi "descoberto" há 500 anos num acidente de percurso para se chegar à Índia, onde haviam as mercadorias valiosas da época. O dinheiro sempre moveu e move o mundo.
Já passamos por tanta coisa nesses últimos 500 anos que, no mínimo, precisávamos ter aprendido mais. Porém a atualidade mostra o contrário.
O novo filme de Sofia Copolla - Bling Ring - é genial. Mostra de forma crua o ponto ao qual nossa sociedade chegou. O ponto de desvalorização do sentimento frente ao que possuímos, aliás ao que precisamos mostrar que temos. Foi-se o tempo que um título de doutorado era o motivo de orgulho máximo. Um doutorado sem uma Birkin pra guardar o diploma não vale nada. A embalagem, esta sim vale, e muito, muitíssimo.
Este filme é mais do que uma dica, é uma necessidade! Neste mundo em que basta o "amigo" estar do nosso lado pra perdermos o interesse -"prefiro falar com ela pelo Whatsapp, pelo Facebook". "Quando Rosa chega perto, percebo que prefiro conversar com Maria, ou com Joana, XOXO".
"Você não viu o que eu postei no Face? Que pena! Não tenho paciência pra te contar, olha lá ;)"
 "Estou no Rio, mas bateu vontade de estar em São Paulo, pra tomar aquele drink do Sky bar. Em São Paulo, quero comer o crepe do Arumã, em Pipa. Em Pipa, desejo jantar no Balthazar, em NYC"... E assim vai... Quem paga a conta? Papai rico? Titio milionário? Amigo bilionário? Não! Quem paga somos todos nós. Estamos perdendo a noção. E se continuar assim não sabemos aonde vamos parar, mas certamente num lugar pior.
Sem dúvida, a mais atual tradução do amor é a de Madonna em Love Spent, atribuindo-lhe preço.
 "Love spent, yeah I'm love spent / Really love spent / Wondering where the love went
I want you to take me like you took your money/  Take me in your arms until your last breath
I want you to hold me like you held your money / Hold me in your arms until there's nothing left
Guess if I was your treasury / You'd have found the time to treasure me"


domingo, 8 de setembro de 2013

A troca de pele - Almodovar



Sou fã de Almodovar desde criança mesmo. Muito antes de achar que compreendia seus filmes, o que hoje fica claro pra mim. Com 11 anos, não eram só as cenas de sexo/ nudez que me atraíam, mas o universo "Bapho" e Kitsch, por motivos óbvios, me fascinavam. Assisti todos muito novo, em VCR,  DVD e, desde Carne trêmula, vi todos no cinema.
Tenho muita dificuldade em lidar com violência, com agressões exacerbadas e, justamente por isso, ano passado quando assisti A pele que habito, não gostei muito do filme, da sensação exacerbada de angústia durante suas 2h. A qualidade técnica impecável, os olhos vêem de cara. Assisti pela 2a. vez em DVD e continuei julgando o tema excessivamente maldoso, cruel de modo "desnecessário". Pensei: "mas gente, pra quê colocar uma maldade desse tamanho num filme? Por que ele foi tão cruel desta vez?"
Meu preconceito me vendou para a sacada mais genial e importante do filme; que só agora, um ano depois e 3 vezes assistido, pude perceber... A crueldade que TODOS nós, inclusive, eu, EU MESMO, que de certo modo também sofri/sofro com isso, fazemos com as pessoas transsexuais...
Até para um gay é difícil entender um trans, uma trava, a quantidade de consoantes da sigla GLSBTT... Sim, pra sociedade é muito difícil e para o trans, você já se colocou nesse lugar?
A agressão de forçar o garoto do filme a "virar"uma mulher é exatamente o que acontece com quem nasceu assim. E para quem grande parte de nós sequer tem sensibilidade de perceber; seja você gay, simpatizante, hétero, psicologo, médico, mulher..
Que crueldade é desde sempre se perceber mulher, preso num corpo de homem e ainda precisar lidar com o preconceito e violência de todos.
Obrigado Almodovar! Obrigado por nos mostrar essas coisas! Obrigado por nos fazer trocar de pele, como as cobras fazem, para seguir picando, como é da sua natureza!