domingo, 8 de setembro de 2013

A troca de pele - Almodovar



Sou fã de Almodovar desde criança mesmo. Muito antes de achar que compreendia seus filmes, o que hoje fica claro pra mim. Com 11 anos, não eram só as cenas de sexo/ nudez que me atraíam, mas o universo "Bapho" e Kitsch, por motivos óbvios, me fascinavam. Assisti todos muito novo, em VCR,  DVD e, desde Carne trêmula, vi todos no cinema.
Tenho muita dificuldade em lidar com violência, com agressões exacerbadas e, justamente por isso, ano passado quando assisti A pele que habito, não gostei muito do filme, da sensação exacerbada de angústia durante suas 2h. A qualidade técnica impecável, os olhos vêem de cara. Assisti pela 2a. vez em DVD e continuei julgando o tema excessivamente maldoso, cruel de modo "desnecessário". Pensei: "mas gente, pra quê colocar uma maldade desse tamanho num filme? Por que ele foi tão cruel desta vez?"
Meu preconceito me vendou para a sacada mais genial e importante do filme; que só agora, um ano depois e 3 vezes assistido, pude perceber... A crueldade que TODOS nós, inclusive, eu, EU MESMO, que de certo modo também sofri/sofro com isso, fazemos com as pessoas transsexuais...
Até para um gay é difícil entender um trans, uma trava, a quantidade de consoantes da sigla GLSBTT... Sim, pra sociedade é muito difícil e para o trans, você já se colocou nesse lugar?
A agressão de forçar o garoto do filme a "virar"uma mulher é exatamente o que acontece com quem nasceu assim. E para quem grande parte de nós sequer tem sensibilidade de perceber; seja você gay, simpatizante, hétero, psicologo, médico, mulher..
Que crueldade é desde sempre se perceber mulher, preso num corpo de homem e ainda precisar lidar com o preconceito e violência de todos.
Obrigado Almodovar! Obrigado por nos mostrar essas coisas! Obrigado por nos fazer trocar de pele, como as cobras fazem, para seguir picando, como é da sua natureza!


Um comentário:

  1. Dear, gostei deste filme desde a primeira vez que assisti. Não vi violência barata alguma, muito pelo contrário, vi exatamente o que vc levou algum tempo para entender. Que há alguém preso no nosso corpo e que não conseguimos colocar para vc. e não precisa ser GLSBTT (ou D, de desavisada!! kkk). Todos nós temos alguém preso em nós. Ser quem os outros querem que sejamos é a maior violência de todas! bjks AC

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